Metro quadrado nas Avenidas Novas aumentou mil euros num ano

Tem sete suites, jardim, piscina e terraços. Está “perto de tudo”, ali junto ao Campo Pequeno. O anúncio não tem imagens mas inclui um aviso: “Não a curiosos, por favor.” A curiosidade começa no preço: a casa mais cara das Avenidas Novas, e uma das mais valiosas da capital, está à venda por 6,8 milhões de euros, mais de oito mil euros por metro quadrado. Na freguesia, a média ronda os 3500 euros. Em 12 meses, os preços dispararam mais de 40%. O equivalente a 1032 euros.

Uma consulta ao portal Imovirtual revela que, nas 30 avenidas que compõem a quarta freguesia mais cara de Lisboa, há pelo menos 360 registos de casas à venda por mais de um milhão de euros. Segundo os números revelados ontem pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), as casas das Avenidas Novas só perdem em valor para as do centro histórico. Santo António, Misericórdia e Santa Maria Maior compõem o pódio das freguesias mais caras de Lisboa. Mas as Avenidas estão na corrida pelos lugares da frente.

“Vivo nas Avenidas Novas há 64 anos e desde então que sinto que a zona é um mundo à parte no centro da cidade. As Avenidas foram traçadas como um boulevard parisiense. São um palco formidável de várias intersecções, que tanto incluem um centro importantíssimo de empresas como de habitação. Sempre foram uma zona nobre, mas nos últimos anos tornaram-se um luxo”, explica Ana Gaspar, presidente da junta de freguesia que em 2012 nasceu da fusão de São Sebastião da Pedreira com Nossa Senhora de Fátima.

Segundo a autarca independente eleita pelo PS, apesar da vinda em massa de estrangeiros nos últimos anos, as Avenidas Novas têm há décadas uma consolidada comunidade de franceses, “mais à volta do Parque Eduardo VII”.

A Lei das Rendas trouxe “alguns despejos de pessoas mais idosas”, admite Ana Gaspar, mas com a crise também veio o fenómeno da reabilitação urbana, que deu uma cara nova à freguesia. A responsável não tem números, mas garante que os edifícios devolutos são cada vez menos um problema das Avenidas. Em 2011, segundo os Censos de então, havia 220 imóveis em estado de degradação na zona que hoje compõe a freguesia.

Hoje resta pouco terreno para construir na freguesia, mas Ana Gaspar deposita todas as esperanças no “espaço formidável” que vai nascer em Entrecampos, após a recuperação dos terrenos que eram da Feira Popular. “Serão 700 casas a preços acessíveis, é muito bom.”

O preço das casas em Lisboa aumentou 24,3% no terceiro trimestre de 2018. O metro quadrado na capital já chega aos 2877 euros, mais 562 euros em comparação com o mesmo período do ano anterior. Em cinco freguesias, o valor já ultrapassa os 3500 euros. Entre as 24 freguesias da capital, só uma escapou às subidas em flecha: no seleto Parque das Nações o preço das casas caiu 1,8%.

Um movimento que contrasta também com a tendência que se vive nas zonas mais afastadas do centro da capital. “Neste momento, são as zonas limítrofes do centro da cidade que apresentam um maior potencial de valorização, influenciado pelo aumento da procura doméstica, que está a deslocalizar-se para as áreas periféricas da capital”, dizRicardo Sousa, CEO da Century 21 Portugal. Em freguesias como Marvila, Lumiar ou Olivais a subida dos preços chega aos 30%.

Casas mais caras fora do centro do Porto

Comprar casa no Porto também já não é para todas as famílias. Os preços aumentaram 21% no terceiro trimestre do ano passado para 1525€ por metro quadrado, segundo publicou ontem o Instituto Nacional de Estatística (INE). Em 12 meses, o metro quadrado valorizou 271 euros no conjunto da cidade.

Em todas as freguesias o aumento foi superior a 20%, à exceção de Paranhos, onde os imóveis ficaram “apenas” 14% mais caros. A zona da Foz e a Baixa portuense mantêm-se como as áreas mais valiosas da cidade, mas fora do centro os preços também dispararam. Na freguesia de Ramalde, o metro quadrado ficou 27% mais caro até setembro de 2018, o equivalente a 304 euros.

Já Cedofeita, que se mantém como a freguesia mais acessível do Porto, e a única onde o preço do metro quadrado não ultrapassa os mil euros, os preços subiram 25% para 986 euros. Num ano, são mais 200 euros por metro quadrado. Aqui, uma casa de cem metros quadrados, que há um ano custava menos de 79 mil euros, hoje custa quase 100 mil.

Os números não surpreendem os especialistas. Rui Silva, diretor comercial da Frontal Imobiliária, diz que os aumentos são “normais”, e refletem o bom momento que o mercado vive, com a procura a ser superior à oferta. “Há famílias que querem continuar no Porto e não podem pagar o preço do centro histórico, logo, vão para as freguesias mais baratas, onde há construção nova.”

A construção nova é a chave que explica a subida dos preços. “Ramalde tinha muita construção parada que arrancou há um ano ou seis meses. Os portugueses têm muita apetência pela habitação nova. Muitos destes projetos novos estão a ser vendidos em planta.”

Rui Silva acredita que a subida dos preços nestas freguesias não vai ficar por aqui. “Campanhã, a médio prazo, vai chegar a preços iguais aos da Baixa do Porto porque aquela zona vai ser muito reabilitada. Se, em 2018, o preço do metro quadrado naquelas zonas aumentou 200 ou 300 euros, em 2019 deverá ir pelo mesmo caminho.”

O mesmo não deverá acontecer nas zonas mais caras, em que o aumento dos preços deverá abrandar. Na zona da Foz o metro quadrado já chega aos 2250 euros e na Baixa aproxima-se dos 1900 euros.

Os números publicados ontem pelo INE revelaram que, em Portugal, o preço das casas subiu perto de 8%, para um valor mediano de 984 euros, mais 72 euros do que no ano anterior.

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